Sonho, …

Sonho, ...Nascida do abandono da técnica da hipnose, a psicanálise é uma experiência que, ao contrário dehipnotizar o sujeito, visa revelar aquilo que já o hipnotiza desde sempre, desde sua própria constituição. A alienação, por ser um "fato mesmo do sujeito", segundo Lacan, ouseja, estruturante, nem por isso deixa de ser alienação. O despertar em jogo na análise indica, por sua vez, o caminho da separação.

Na obra de Freud, a abordagem do sentido pode ser depreendida em quatro grandes segmentos conceituais que foramtomados por ele, sucessivamente, numa espécie de seqüência lógica, em que um conceito levava ao outro: sonho, fantasia,delírio, ilusão. A análise de cada um desses elementos representou uma etapa na construção de uma experiência dodespertar do sentido.

A obra de Freud se inaugura com a Deutung dos sonhos e, a partir dela, é a operação sobre o campo do sentido que ele iráoperar. A interpretação dos sonhos inaugura a descoberta da psicanálise e, para Freud, a função do sonho éfundamentalmente a de ser um "guardião do sono". Na carta de 9/6/1899, durante o período de escrita de A interpretaçãodos sonhos, Freud escreve a Fliess: "Invariavelmente, o sonho visa a realizar um desejo que assume diversas formas. É odesejo de dormir! Sonhamos para não ter que acordar, porque queremos dormir. "O desejo de dormir é, segundo Freud nãoaquilo que determina a operação do sonho como uma necessidade de dormir, mas sim como um desejo de dormir. 

O sonho, ao realizar de modo alucinatório o desejo e o desejo é sempre sustentado pela fantasia, está a serviço doadormecimento, e é precisamente naquele momento em que algo do real tenta imiscuir-se no sonho, como no sonho deangústia, que o sujeito acorda. Paradoxalmente, o sujeito acorda, para prosseguir dormindo, isto é, fantasiando. Às vezes,durante o próprio sonho de angústia, dizemos para nós mesmos a fim de evitar o despertar que se insinua: "Afinal decontas, isto é apenas um sonho!" 

Há uma relação íntima entre o sonho e a fantasia. Se todo sonho é a realização de um desejo, a fantasia é o suporte do desejo. "Nossos sonhos nada mais são do quefantasias" Freud frisa isto no artigo "O poeta e o fantasiar" (1908/1996, p.131) , que sofreram a ação da censura e emergiram deformadas e distorcidas. A mesma ação dafantasia inconsciente, em torno da qual o sonho e o devaneio (fantasia consciente) se constroem, irá constituir para o sujeito, na vida de vigília, sua relação com a realidade,ou, melhor dizendo, sua própria realidade, uma vez que a realidade é, em essência, realidade psíquica.