Já há alguns anos se vêm discutindo as mudanças pelas quais o medelo tradicional de familia conjugal vem experimentando onde os papeis são reinventados a todo intante. Os novos modelos em contraposição ao ideal de família nuclear tradicional: pai, mãe e filhos biológicos em que a figura da mãe ocupava o lugar central, são definidos de tal forma que aparecem enquanto satisfazendo a idéia de família desestruturada.
Para reforçar este ideal de feminilidade impossível de se habitar, na sociedade capitalista emergente, produziu-se uma enorme quantidade da saberes – filosóficos, médicos, literários, que insistiam sobre a ‘natureza’ feminina como estreitamente definida pelas funções reprodutivas das mulheres. Se este ideal de família permanece no imaginário social, inevitavelmente as novas configurações familiares e as da mulher de casa, no campo profissional, intelectual ou político, serão sentidas como deficitárias ou falhas em relação ao modelo anterior.
O autor Leclaire, (2001, p.33) questiona em nossa cultura a diferença entre a função da mãe e a função do pai, em que há a imaginarização e a generalização do espaço materno: “A mãe é uma boa imagem de um paraiso ou de um inferno. Para manter esse sonho, tudo, o mundo inteiro se torna então representação desse pedacinho do céu, desse outro mundo que é o corpo materno. A representação da mãe se torna o grande ídolo, e a atividade do homem consiste em fabricar ídolos, seja um metro ou um arranha-céu, um sistema filosófico bem fechado ou uma teoria pessoal. Sua grande atividade é construir espaços fechados” (Leclaire, 2001, p.36).
E acrescenta não ser fácil para a mulher escapar da universalidade da fantasia masculina, representada na polaridade entre a mãe e a puta. Esta fantasia prende a homens e mulheres, acentuando a rivalidade sexual, ao mesmo tempo em que propõe o apagamento das diferenças. “Somos todos iguais: somos todos mães disfarçadas de homens-mulheres”, provoca Leclaire (2001, p. 39). Ao extremo, a disputa seria para ver quem é melhor mãe!